O que se Vê e o que Não se Vê.
Em qualquer ação humana existe simultaneamente algo
de positivo e algo de negativo. A maior felicidade aparente traz sempre consigo
problemas novos, e uma situação negativa que nos aconteça abre também novas
oportunidades. Quantas vezes pensamos “agora é que é, acabaram-se-me os
problemas”, apenas para vermos renovados infortúnios surgirem no caminho.
Podemos dizer que, na maioria dos casos, as pessoas têm sempre que escolher não
entre uma coisa boa e uma má, mas sim uma situação em que os benefícios são
superiores aos seus custos. Não existe o melhor dos dois mundos. Até o
ex-Primeiro-Ministro José Sócrates, falando sobre o período em que esteve
preso, afirmou que nunca se sentiu tão livre como quando esteve no cárcere.
E a
riqueza, tão invejada por tantas pessoas, se é verdade que traz os benefícios
do conforto material, é também uma fonte de novas preocupações, receios e
responsabilidades. Já a pobreza, por sua vez, se não for extrema, pode ser a
base para uma vida mais livre e despreocupada. Aliás, em Economia, aprendemos
que uma escolha é feita quando o seu benefício ultrapassa o seu custo. Poucas
vezes, na realidade, se trata de escolher entre o totalmente bom e o totalmente mau, mas antes entre
o que tem mais benefícios do que os seus custos percebidos. E frequentemente,
ai de nós, as escolhas revelam-se erradas - o que promete ser doce revela-se
amargo e, ao invés, outras vezes o que parece ser o inverno do nosso
descontentamento acaba por se mostrar a planta que traz as flores da Primavera.
Interlúdio (pode passar à
frente sem perder o fio à meada)
Este reconhecimento de que
tudo no universo tem uma natureza dual pode ser traçado no pensamento ocidental
pelo menos até Platão, mas foi principalmente o filósofo germânico Friedrich
Hegel que sistematizou uma forma de ver e pensar o mundo em que cada ato
afirmativo, cada posição, acarreta sempre uma negação recíproca, uma
contraposição ou contradição. A vida, a existência, é um processo dinâmico que
evolui precisamente através das contradições que lhe são inerentes. São estas
que geram o impulso, o ímpeto vital para os seres evolverem. São elas que dão,
no fundo, valor aos momentos da vida. Podemos até dizer que a vida deriva o seu
valor do facto de haver morte – a sua negação - assim como a alegria da luz
provém de haver escuridão e o conforto do calor só é sentido por quem já
experimentou o frio. O sentido, o valor das coisas só existe na tensão entre
opostos. A falta desta inquietação primeva, telúrica, é o Nada.
Também na alegoria de Adão e
Eva encontramos a inextricável ligação dos opostos e uma resposta ao problema
do Mal. Adão e Eva tinham a escolha
entre ficar felizes e ignorantes para sempre ou provarem da árvore do
conhecimento mas ficarem sujeitos às agruras da vida.
Na primeira opção não existe
o mal, mas, como tal, também não existe o conceito de bem; não existe
felicidade pois também não existe o conceito de tristeza; não existe o conceito
de "conseguir", de recompensa pelo esforço, pois também não existe o
conceito de falha ou de frustração. A vida seria provavelmente uma grande seca.
Então a segunda opção foi a
da liberdade, do desafio, da superação, da descoberta, do aprender com os
erros, da felicidade e da tristeza, do proveito e do custo, do perder e ganhar
e do perder para ganhar.
Hegel dizia que “O Absoluto é
o Ser e o Não-Ser”. Esse Absoluto, essa Ideia Criadora do Universo, responde
inclusivamente à primeira das perguntas filosóficas: “Porque é que existe
alguma coisa em vez de nada?”. Ainda hoje esta questão lançada por Leibniz
inquieta muitos espíritos ansiosos. Mas a resposta é que a Existência já é
o Ser e o Nada, ambos. A Existência não é meramente o Ser, mas sim o
Ser-em-mudança, a eterna passagem do Ser para o Nada e do Nada para o Ser. É o
Devir, o Tornar-Se. A vida é eterno nascimento e morte.
De volta. Dizia, então…
Infelizmente, nestes dias de
campanha eleitoral, vemos o défice de honestidade de muitos políticos que
prometem apenas coisas boas esquecendo-se de dizer o preço das mesmas. Mais uma
vez, em Economia, aprendemos que "não há almoços grátis"; mas quem os
ouvir há de pensar que pode comer o que quiser que vai ser sempre outro alguém
a pagar a conta. Convido as pessoas que se sintam tentadas por estas promessas
a observarem com atenção a sua conta do supermercado. Lá podem constatar que os
produtos com IVA de 6% são cada vez menos, ao passo que os com IVA de 23%
crescem como cogumelos. O IVA de 13%, esse, parece ser uma espécie em vias de
extinção, de tal modo se sente atraído a emigrar para a taxa máxima. Este é
apenas um exemplo da contradição presente em tudo o que tem a ver com "dar
coisas às pessoas". Como diz o povo, "dá com uma mão e tira com a outra".
Ao colocar cada vez mais produtos onerados à taxa máxima do IVA (retirando-os
das taxas mais reduzidas) o Governo escusa-se a dizer que está a aumentar
impostos, pois as taxas estão iguais. Mas que está, isso está. Aliás, a
maquilhagem fiscal é hoje de tal ordem que a única maneira de ver se os
impostos estão a aumentar é ver o valor da receita fiscal. E aí o algodão não
mente. No gráfico abaixo (clicar) vê-se que os impostos em Portugal passaram
quase para o dobro nos últimos 20 anos. Da próxima vez que um político lhe
prometer coisas pergunte-lhe quanto tem que pagar por isso.
Infelizmente as pessoas não perguntam... parabéns pelo artigo
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