Pescadinha de rabo na boca


Um dos maiores problemas de Portugal é que - aparentemente - a maioria dos votantes continua a eleger os representantes como se o governo de Portugal fosse autónomo. 

A generalidade da população ainda não terá percebido até que ponto já foi feita a "Integração Europeia" ou, mais correctamente, a União Política, que deixa margem quase zero de autonomia aos países participantes na UE.

Desde as dimensões das sanitas, ao tamanhos dos frutos, sementes, qualidade dos nutrientes na alimentação, tipos aceites de imigração, controlo de fronteiras, quotas de "género", regulações ambientais, industriais, comerciais, fiscais, tudo está centralmente decidido e coordenado por via das directivas e regulamentos da UE.   

O facto de não se entender essa não-autonomia tem dois efeitos fundamentais na população:

1. Fazer crer às populações que o rumo seguido na governação poderá de algum modo ser alterado caso se mudem os representantes/partidos e seu peso nos parlamentos nacionais;  

2. Desvia a atenção do centro de decisão efectivo (o Parlamento e a Comissão Europeia) para o pseudo-centro nacional, colocando a responsabilidade pelo que corre mal no rumo - ilusoriamente - no pseudo-centro nacional. 

Ou seja, ficam os nossos representantes nacionais responsáveis por "decisões e direcção" que não lhes cabem. Como o sistema de incentivos (alocação dos financiamentos) depende do exterior (política do BCE e coordenação dos "bancos centrais" europeus "nacionais")  os nossos políticos nacionais são beneficiados pela "queima" a que estão sujeitos em função de decisões que nem (sequer) lhes competem no esquema da arquitectura europeia. O PRR é um bom exemplo disso quando os fundos comunitários são para ser atribuídos, não para os sectores privados, mas para financiarem directamente o sector público. Os políticos nacionais "sofrem por terceiros", mas recebem pagamento. 

O alheamento das populações é essencial para a manutenção do rumo, e o obscuro processo europeu (jamais referendado) e publicado apenas em sites e documentação complexa e ilegível para os populares, contribui para esse não esclarecimento.  

Assim, faz-se campanha, vota-se, discute-se resultados, como se o processo nacional de decisão fosse relevante, quando não o é. 

Apenas seria relevante se pelo menos parte dos partidos nacionais fosse eurocética. O que já não existe, e muito por culpa do sistema de incentivos e centralização em Bruxelas. 

A pescadinha tem o rabo na boca.

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