Longa é a marcha, Longa se torna a espera

Frank Tipler, Christopher Nolan, Thomas Bernhard. Cada um em seu campo, para as respectivas audiências, tentaram com sucesso mostrar que o Universo é um bloco atemporal, as nossas vidas como que caleidoscópios agitados ao capricho de um Demiurgo pouco ralado com questiúnculas pertinentes ao Bem e ao Mal. Assim, cada segundo sentido é ao mesmo tempo um anacronismo e uma singularidade irrepetível, onde as leis falham e o nexo causal nunca chegou a nascer. 

Estou a descrever Portugal, o mais indecifrável e críptico fosso na liga dos países desenvolvidos, onde num só dia o Estado emite três milhões e oitocentas mil notas de esbulho, para com essa vindoura colecta pagar aquilo que já deperdulou no suborno à casta amanuense, e com as parcas migalhas restantes vir acirrar jograis, nas costumeiras paradas dignas de horror japonês cinquentista, Alameda a baixo até onde Lxboa se enrola em turbantes e disso mais ninguém fala. 

Zé Pedro, antes de sucumbir à vida e render socialização, bem cantou: eu já dei tudo, submissão. Mal sabia que as fardas amorfas da classe operária viriam a ganhar vida num remake pavoroso do Maoísmo rural.

É anátema sair à rua nos dias em que a pessoa-trabalhador impera, porque é da míngua humana que a Mátria padece, e nada dirime este problema como tochas, cordas, facas e zagalote. 

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