6 alucinações na ADSE




A ADSE é como umas fraldas para acamados, precisam de ser mudadas, mas no actual estado, ninguém o quer fazer. Para entender porquê, é melhor ir passo a passo.

1- Um serviço muito útil.
Em primeiro lugar convém reconhecer que a ADSE presta um valioso serviço ao comum dos contribuintes mortificados. Senão vejamos:
- Os funcionários públicos preferem abdicar de 3,5% dos seus salários a ter de frequentar, de graça, um serviço equivalente, mas por eles prestado.
Demonstra-se então que o SNS é tão mau, que as próprias pessoas com a responsabilidade por pôr o SNS a funcionar preferem ter de pagar a serem lá apanhadas, nem que isso fosse de graça, que até é.
Mas não é só isso. Ao preferir pagar para ir aos hospitais privados a serem apanhados de graça num serviço por eles prestado, os funcionários públicos demonstram, que os serviços que eles prestam não prestam, e que eles, funcionários, não estão para ser incomodados com isso da responsabilidade. Eles, quando querem, querem é ir ao privado.
Recorrer aos serviços públicos é algo que não assiste aos funcionários. Eles têm uma missão muito mais importante para desempenhar.

2- Para que servem os funcionários.
Chamam-lhes de funcionários públicos, mas não é um nome adequado. A ver pelos serviços que não prestam, eles não funcionam lá muito bem. O mais correcto seria chamá-los de ‘Eleitores Profissionais’.
Isso mesmo, são profissionais, pagos, para eleger os governos, que uma vez eleitos, lhes vão continuar a pagar.
Funciona, porque os governos continuam a ser eleitos e os eleitores profissionais continuam a ser pagos. Mas é um equilíbrio delicado. Por um lado, porque a baixa abstenção obriga a contratar cada vez mais profissionais, por outro, porque há cada vez menos dinheiro para os contratar. Entram as cativações.

3- No cativar é que está o ganho.
O governo fez a guerra às PPP, aos contratos de associação, ao investimento público, etc e tal, e até dizem que foi por uma questão ideológica, mas estão enganados.
A motivação é bem pragmática. Com uma PPP não se compram votos e aquele dinheiro ali gasto é, antes de mais, necessário para contratar os eleitores profissionais.
Certo, uma PPP é um serviço de melhor qualidade e mais barato, que as populações até preferem. Mas as populações são amadoras, não votam bem, ainda iam se por a eleger populistas sem sensibilidade.
É preciso deixar as eleições para os profissionais, nem que para isso se cative até ao osso. Posto assim, nem um euro do orçamento poderá ser desperdiçado, que há eleições para ganhar. A ideia até era boa, mas talvez tenha ido longe demais.

4- Não é bem privado
Na gíria comum, o privado é o que é pago com dinheiro dos consumidores e o que é público com dinheiro dos impostos. Ora, se uma empresa tem os seus serviços pagos pelo estado, não se pode dizer que seja uma empresa verdadeiramente privada. Indiferentes à incerteza na sua natureza, uma coisa é certa, essas empresas têm muita fome.
Há muito boa gente bem relacionada, que se habituou à vida descansada de prestar uns serviços aos eleitores profissionais e mandar a conta ao contribuinte. É um bom negócio.
Toda a gente sabe, e por isso mesmo se fala em regionalização ou deslocar o infarmed, onde há um departamento do estado, há muto dinheiro para ser gasto. É precisamente lá onde os bons vendedores vão assentar. Incluindo, as grandes corporações bem relacionadas.
Como por acaso e mero exemplo, as redes de hospitais. A CUF, a Luz e outras que tais. Estas que tinham uma vida santa a prestar ao estado os serviços que o estado devia prestar.
Mas não mais. Seja porque abusaram das cativações, ou porque as negociatas da CGD têm prioridade, o dinheiro que da ADSE fluía, deixou de agradar.
As redes de hospitais ditos-privados ficaram chateadas, pois claro, e tiveram de tomar uma posição. Calha bem que é ano de eleição.

5- Comprar o eleitor ou o que o eleitor compra
Um terrível dilema acabou de se abater sobre o governo, logo agora que até estava mais frágil, a poucos meses de muitas eleições, onde até poderia ganhar e cortar na mesada daquela malta insaciável da esquerdalha.
O drama, é que os hospitais ditos-privados, fartos de ser cativados, entraram num jogo de chicken contra o governo e ameaçam agora boicotar as eleições, enfurecendo os eleitores profissionais.
Num ano normal, em que a CGD não está demasiado falida, o governo resolveria facilmente esse problema. Entre um, comprar os eleitores profissionais, e outro, comprar-lhes as coisas que estes querem comprar. O governo comprava aos dois e o assunto ficava logo resolvido.
Mas a CGD está tão esburacada, e os eleitores tão caros, e os contribuintes tão emigrados, que nem o Ronaldo fintaria esta barreira.

6- Uma oportunidade para piorar.
No negócio das eleições, se algo tem de mudar, um bom resultado é que fique tudo na mesma. Se não ficar, então quase de certeza que a coisa vai piorar.
Em anos de eleições o governo não vai fazer a desfeita aos eleitores profissionais de lhes tirar o ADSE e os mandar chafurdar para o meio do povo no SNS. Vão chorar, lamentar, espernear, mas no fim do dia têm de ceder à pressão dos grupos hospitalares ditos-privados, e pagar.
A que preço, não saberemos tão cedo, mas não será barato.

Comentários