Em defesa do Natal, tradição da civilização Ocidental (para leigos e cristãos)

Por Paul Craig Roberts, minha tradução daqui

O Natal é um tempo de tradições. Se o leitor arranjou tempo no afã pré-natalício para decorar uma árvore, está a partilhar uma tradição relativamente recente. Embora a árvore de Natal tenha raízes antigas, nos inícios do século XX apenas uma em cada cinco famílias americanas montava uma árvore em casa. A década de 1920 começara antes de a árvore de Natal se tornar um símbolo da época. Calvin Coolidge foi o primeiro presidente [1923–1929] a acender uma árvore de Natal nacional no relvado da Casa Branca.

Os presentes são outro costume partilhado. Esta tradição vem dos três Reis Magos que trouxeram presentes para o menino Jesus. Quando eu era criança, os presentes eram mais modestos do que são agora, mas mesmo assim as pessoas queixavam-se da comercialização do Natal. Nós acostumámo-nos à comercialização. As vendas de Natal são a espinha dorsal de muitas empresas. Dar presentes leva-nos a lembrar dos outros e a tirar um tempo às nossas vidas atormentadas para pensarmos neles.

A Adoração dos Reis Magos de Jacob Jordaens

As decorações e presentes de Natal são uma das nossas conexões à cultura cristã que manteve a civilização ocidental unida durante 2 000 anos.

Na nossa cultura, o indivíduo conta. Isso permite à pessoa individual sustentar a sua opinião, assumir uma posição de princípio, tornar-se numa reformadora e insurgir-se perante a injustiça.

Esta autonomia do indivíduo é exclusiva da civilização ocidental. Tornou o indivíduo num cidadão igual em direitos [perante a lei] a todos os outros cidadãos, protegido do governo tirânico pelo primado da lei e pela liberdade de expressão. Essas conquistas são o produto de séculos de luta, mas todas elas derivam do ensinamento de que Deus valoriza de tal forma a alma do indivíduo que ele enviou o Seu filho para morrer de modo a que pudéssemos viver. Ao elevar assim o indivíduo, o cristianismo deu-lhe uma voz.

Antigamente, apenas aqueles com poder tinham uma voz. Mas na civilização ocidental as pessoas com integridade têm uma voz. O mesmo acontece com as pessoas com sentido de justiça, de honra, de dever, de fair play. Os reformadores podem reformar, os investidores podem investir e os empreendedores podem criar empresas comerciais, novos produtos e novas ocupações.

O resultado foi uma terra de oportunidades. Os Estados Unidos atraíram imigrantes que partilhavam os nossos valores e os reflectiram nas suas próprias vidas. A nossa cultura foi absorvida por pessoas de povos diversos que se tornaram num único.

Nas últimas décadas, perdemos de vista o feito histórico que conferiu autonomia ao indivíduo. As raízes religiosas, legais e políticas desta grande conquista já não são reverentemente ensinadas nas escolas secundárias, faculdades e universidades ou respeitadas pelo nosso governo. As vozes que chegam até nós através dos milénios e nos conectam à nossa cultura estão a ser silenciadas pela “política de Identidade”, pelo “politicamente correto” e pela “guerra ao terror”. A oração tem vindo a ser expulsa das escolas e os símbolos religiosos cristãos da vida pública. As protecções constitucionais foram diminuídas pelas ambições políticas hegemónicas. Detenções indefinidas, tortura e assassinato são agora práticas reconhecidas do governo dos Estados Unidos. A conquista histórica do processo legal foi revertida. A tirania ressurgiu.

A diversidade no país e a hegemonia no exterior estão a consumir valores e a desmantelar a cultura e o estado de direito. Há muito espaço para a diversidade cultural no mundo, mas não adentro de um único país. Uma Torre de Babel é desprovida de cultura. Uma pessoa não pode ser um cristão um dia, um pagão dia seguinte e um muçulmano no dia a seguir a esse. Uma miscelânea de valores culturais e religiosos não proporciona a base para o direito — excepto para o poder nu e cru do passado pré-cristão.

Todos os americanos têm muitíssimo em jogo no cristianismo. Quer sejamos ou não individualmente crentes em Cristo, somos beneficiários da doutrina moral que restringiu o poder e protegeu os fracos.

O Poder é o cavalo montado pelo mal. No século XX, o cavalo foi montado arduamente, e o século XXI evidencia um aumento no ritmo. Milhões de pessoas foram exterminadas no século XX pelos nacional-socialistas na Alemanha e pelos comunistas soviéticos e chineses simplesmente porque eram membros de uma raça ou classe que haviam sido demonizados pelos intelectuais e pelas autoridades políticas. Nos primeiros anos do século XXI, centenas de milhares de muçulmanos em sete países foram assassinados e milhões foram deslocados para que a hegemonia de Washington se alargasse.
O poder secularizado e livre das tradições civilizacionais não está limitado por escrúpulos morais e religiosos. V. I. Lenine deixou isso claro quando definiu o significado da sua ditadura como “poder ilimitado, repousando directamente na força, não limitado por nada”. A ânsia de Washington pela hegemonia sobrepõe-se aos cidadãos americanos e aos do resto do mundo baseia-se inteiramente no exercício da força e está a ressuscitar o poder que não responde perante ninguém.

A ênfase do cristianismo na valia do indivíduo torna o poder que Lenine reivindicou, tal como o que Washington agora afirma, impensável. Sejamos religiosos ou não, a nossa celebração do aniversário de Cristo celebra uma religião que nos tornou senhores das nossas almas e da nossa vida política na Terra. Uma religião como esta é de manutenção valiosa até mesmo pelos ateus.

Quando entramos em 2019, a civilização ocidental, produto de milhares de anos de luta, está em declínio. A degeneração está em toda parte diante dos nossos olhos. À medida que o Ocidente se afunda na tirania, os povos ocidentais defenderão a sua liberdade e as suas almas, ou afundar-se-ão na tirania que uma vez mais levantou a sua horrível e devoradora cabeça?

Silves, 24 de Dezembro de 2018

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