A Sensação Térmica e o PIB - Quais as Semelhanças?
O último grito em termos de meteorologia é a
informação sobre a sensação térmica, ou o “real feel”. A ideia é que a
temperatura medida por um termómetro não corresponde exatamente à temperatura
sentida pelo nosso corpo e, assim, às vezes, o termómetro marca 20 graus em dois
dias diferentes, mas num desses dias a sensação de calor é mais intensa do que
no outro. A questão é pertinente. Quem já foi a um ginásio sabe que numa sauna,
por exemplo, aguentamos bem uma temperatura de 80 graus, mas a mesma
temperatura no ambiente extremamente húmido de um banho turco torna-se
insuportável. Mas daí até podermos expressar num número qual é a temperatura
sentida por um ser humano vai um grande salto. Como é que se pode dizer que
hoje o termómetro marca 15 graus, mas a temperatura que eu sinto é de 14 ou de
16 graus? Parece-me impossível dizê-lo. A temperatura mede a reação de um
objeto puramente físico ao meio externo e o máximo que podemos dizer é que existe
uma analogia entre a temperatura medida por esse objeto e o grau de calor
sentido pelo meu corpo. Tentar passar para uma mesma escala numérica a
temperatura do termómetro e a temperatura sentida por uma pessoa é impossível,
pois a temperatura que a pessoa sente simplesmente não é exprimível através de
um número. Num dia, trazendo a mesma roupa, posso estar com mais frio e noutro
com mais calor, embora a temperatura medida por um termómetro seja a mesma para
o exterior e para o meu corpo nesses dois dias. Do mesmo modo, não há maneira
de assegurar que duas pessoas tenham a mesma sensação térmica para uma mesma
temperatura. Isto é, é impossível reduzir uma sensação a um número.
Ora, isto faz-me lembrar o método usado para medir a produção
global de um país, o PIB (Produto Interno Bruto). A ideia aqui é captar através
de um número tudo o que se produz num país durante um período de tempo definido
(usualmente 1 ano). Mas, contudo, a professora ensinou-nos logo na escola
primária que não podemos somar maçãs com laranjas, pois 3 maçãs mais 2 laranjas
é igual a que número? Nenhum. Todavia, o PIB dispõe-se, heroicamente, a somar não
só laranjas e maçãs como todos os milhares ou milhões de coisas que se produzem
num país e expressar o resultado através de único número. Ah, não há nada como
a Ciência!
É claro que para somar várias coisas elas têm que estar
expressas na mesma unidade. Então, o que o cálculo do PIB faz é multiplicar as
quantidades produzidas de cada produto pelos seus respetivos preços. Assim,
temos tudo traduzido para Euros e obtemos um resultado também em Euros. Ilustremos
isto com o seguinte exemplo para um país imaginário - A URSS (União das
Repúblicas Sedentas e Sociais):
Quantidade
|
PIB
|
||||
Preço
|
2018
|
2019
|
2018
|
2019
|
|
Maçãs
|
1 €
|
1000
|
1000
|
1000
|
1000
|
Sapatos
|
20 €
|
250
|
0
|
500
|
0
|
Sapatos nº 37
|
20€
|
0
|
300
|
0
|
600
|
PIB
|
1500
|
1600
|
O PIB é calculado para cada um dos anos 2018 e 2019,
multiplicando o número produzido de maçãs e sapatos pelos seus respetivos preços.
Repare-se que neste exemplo o PIB subiu de 2018 para 2019 – passou de 1500€
para 1600€. O governo da URSS pode então dizer que “a economia está a crescer”.
Mas o que se passou na realidade? Em 2018 produziam-se sapatos de todos os
números, grandes e pequenos. Só que, em 2019, devido à insatisfação cada vez
maior e das “tensões acumuladas” na indústria do calçado, o governo, para
simplificar, decidiu começar a produzir apenas sapatos nº 37. Isto foi um
sucesso! A prova é que a produção de calçado passou de 250 para 300 e o PIB, em
sintonia, também aumentou. A URSS é de facto um caso de sucesso! Claro que há
sempre os insatisfeitos, os eternos lamuriosos: mas só com uma enorme má vontade
é que uma pessoa que calce 43 não consegue andar, em solidariedade com os seus
compatriotas, com uns sapatos 37. Pode causar um pouco desconforto de início,
mas depois uma pessoa adapta-se e acabamos por ser todos mais felizes.
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