A União nacional contra os que "nos" autorizam essa união

A pseudo-direita que temos - pseudo, porque Portugal é um país de excepção, um país onde a esquerda consegue impor um regime socializante desde 1975 em completa contra-corrente face ao resto da Europa civilizada e, porque liberal na economia, rica - fala agora em uma nova "União". Sob a égide de quem? Ora, da pseudo-direita que permitiu, subsistiu e manteve o regime de esquerda, sendo por isso autorizada pela esquerda a ser a "direita" possível.

A questão é que essa "direita" viu agora, depois de uma copiosa derrota eleitoral, uma luz no fundo do túnel. E essa luz é um comboio em sentido contrário onde, obviamente, ela não está .

A "direita" chegou onde está por ter colaborado - sim, colaborado - com a esquerda reinante. Quer CDS, onde há inúmeros exemplos desde Portas a Cristas, passando pelo enorme equívoco que foi (já não é, já está reconhecido) Adolfo Mesquita Nunes, quer PSD. Passos evitou deixar falir o país com o chumbo do PEC 4, mas deixou-se, por um lado, enredar nas maquinações da esquerda durante quatro anos e, por outro, prejudicar de todos os modos possíveis pelo CDS. Nem sequer privatizou a RTP quando o poderia ter feito e alterado profundamente a oposição que lhe era feita. Isto são factos. Todos eles podem ser desenvolvidos e estão documentados. Após Passos veio Rui Rio, assumindo o PSD no centro-esquerda e negando o carácter de direita do PSD.

Este é um retrato sucinto de dois partidos compostos por pessoas que nada têm de independentes face à esquerda. Por que motivo não são independentes? Porque o PS é dono do regime e controla todas as portas de acesso à subsistência económica de que dependem os "direitistas" nas suas vidas pessoais. Todas as portas. Desde as academias, às profissões, às grandes empresas públicas, a grande parte das privadas e aos media. Em tudo, os nossos "direitistas" para exercerem prática política têm de o fazer sempre sob a "espada discricionária" do PS, e ao mínimo desacordo excessivo podem ser penalizados fortemente no sustento de famílias e dependentes. Sabemos bem que é assim e, tal como no parágrafo anterior, são factos.

E não há como iludir esses factos. De resto, desde Camilo Castelo Branco e Eça de Queiroz que a nossa política está perfeitamente descrita, identificados os vícios, e caracterizados os modos de controlo por parte de uma minoria que tentou tomar o poder no século XIX, tomou o poder no século XX, e se espalhou pelos actuais principais partidos. É assim.

Dia 6 deste mês de Outubro, o espectro sofreu uma brusca alteração. O Iniciativa Liberal e o Chega elegeram um deputado cada. O Iniciativa liberal com votos urbanos em Lisboa, o Chega com votos urbanos e sub-urbanos mais disseminados pelo país o que indicia um potencial maior de crescimento. Dia 7, no programa Prós e Contras, ficou evidente para quem viu que algo se tinha alterado radicalmente. A esquerda "embatucou" enquanto os recém-chegados Cotrim de Figueiredo e Ventura os confrontavam como nunca haviam sido confrontados (em 44 anos) pela "direita" incumbente na tal da "União".

Tal facto é despiciendo? Não. De todo. Porquê? Porque a postura da IL e do Chega (apesar das insipiências próprias de quem começou agora) é radicalmente nova e não é, nem entendida pela esquerda, nem - segurem-se - entendida pela "direita" que apela à união do pequenino IL sob o seu "abraço de urso". O Chega foi estultamente posto de fora, não tendo os "direitistas" a noção de que isso apenas reforça o Chega, tal como reforçará o IL se este não for na conversa e nos cantos de sereia da "pseudo-direita".

Mas, que diferenças têm o Iniciativa Liberal e o Chega face aos incumbentes de "direita" que os tornam irreconciliáveis com o PSD e o CDS? Simples. O IL e o Chega são direita moderna, integrados em correntes modernas internacionais, ideologicamente sólidos e consistentes, tendo mundivisões ajustadas ao presente. O PSD e o CDS ainda vivem no tal país de excepção, irreal, porque só existente nas mentes dos participantes na fantasia que os políticos de esquerda escolheram para Portugal no pós-25 de Abril. E a nossa constituição é a base e garante dessa fantasia onde vivem.

Esse mundo morreu, ou melhor, terá de morrer, se Portugal tiver alguma hipótese de ultrapassar a estagnação económica e social que dura há 20 anos e, ultrapassar também, o marasmo cultural e intelectual que 44 anos de socialismo constituem para a maior parte da população.

Tenho grande confiança no dirigente do IL (Carlos Guimarães Pinto). Já o afirmei várias vezes. Tenho também grande confiança no dirigente do Chega (Diogo Pacheco de Amorim). Imagino apenas as pressões a que estão sujeitos neste período pós-eleitoral com as satisfações dos fãs, por um lado, e com as maquinações que os adversários estão a preparar, por outro. Algumas dessas maquinações já puseram o pé na porta e os apelos à precoce união da direita é a maior delas todas.

O IL e o Chega devem ficar de fora dos combates internos pelas lideranças em crise no PSD e CDS. Devem deixar que estes dois partidos se definam, lutem internamente e se adaptem à nova realidade, ou morram. É lá com eles.Trata-se de esperar anos (4, 8, quem sabe?) e deixar que as suas bases de apoio (do IL e do Chega) se alarguem, sedimentem e estruturem em plena autonomia e jamais pensando que são adversários.

Os adversários são os socialistas desde o Livre ao CDS. O IL e o Chega são concorrentes e, não se esqueçam, os concorrentes adquirem lojas na mesma rua para melhor atraírem clientes e controlarem o mercado: Rua dos Fanqueiros, Rua dos Douradores, Rua dos Correeiros.

Não há pressa em ocupar o poder governativo.

A urgência em tirar a esquerda do poder é uma falácia (por isso usada pelos unionistas). A esquerda estará no poder ainda por largos anos enquanto houver condições do BCE para isso (não vão acabar tão cedo) e enquanto seguirem as normativas da UE em termos de controlo do défice e contas públicas.

O que a futura direita deve estar preparada para fazer, é, daqui a uns anos, ser capaz de assumir o poder  nos seus próprios termos, e nunca nos da "direita que a esquerda permite" actual. Cair nessa armadilha é um suicídio político.

E será péssimo para o país não sairmos do marasmo PS/Bancarrota - PSD/Correcção - PS de novo.

Por favor: Não!

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