O lobo de Arroios

A caminho de uma IPSS onde exerce o cargo de conselheiro especialíssimo, o Senhor Subsecretário de Estado fica com a biqueira do sapato esquerdo suja da poeira levantada por um contribuinte que passa levianamente. 

Acto contínuo, puxa da arma de serviço, executa o insolente com uma bala na fronte, fura as rótulas à companheira do ofensor, e liga para a empresa de segurança privada onde exerce o cargo de consultor sénior para que venham recolher as duas crianças entretanto estarrecidas ate à imobilidade, para serem conduzidas ao parque de reinserção social mais próximo. 

Sacode a pólvora da arma, que arruma diligentemente no coldre, limpa o calçado à blusa da viúva e segue caminho. O bulício na hora de ponta prossegue, desnudo de sobressaltos, sem que aos utentes da urbe sobrevenha a mais ténue agitação. Tudo está bem. 

No ano seguinte o Senhor Subsecretário de Estado é eleito presidente de uma Câmara municipal a cujos munícipes prometera uma lata de salsichas por cada condomínio que instalasse painéis solares distribuídos pelo seu primo Teodoro. 

A junta de freguesia de Santa Tecla da Nhorpinhuça emprega a contribuinte baleada, ora paraplégica, como acendedora de interruptores a recibos verdes, gesto magnânimo que a faz desistir da queixa que pensara apresentar na esquadra mais próxima da GNR, a 308km. 

O primeiro-ministro autoriza a instalação das iluminações para o hajj que se aproxima. 

O 25 de abril está vivo.

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