O lobo de Arroios

A caminho de uma IPSS onde exerce o cargo de conselheiro especialíssimo, o Senhor Subsecretário de Estado fica com a biqueira do sapato esquerdo suja da poeira levantada por um contribuinte que passa levianamente. 

Acto contínuo, puxa da arma de serviço, executa o insolente com uma bala na fronte, fura as rótulas à companheira do NIF abatido, e liga para a empresa de segurança privada onde exerce o cargo de consultor sénior, para que venham recolher as duas crianças, ex-pertença do progenitor 1 e do progenitor 2, entretanto estarrecidas ate à imobilidade, que serão conduzidas ao parque de reinserção social mais próximo. 

Sacode a pólvora da arma, que arruma diligentemente no coldre, limpa o calçado à blusa da viúva e segue caminho. O bulício na hora de ponta prossegue, desnudo de sobressaltos, sem que aos utentes da urbe sobrevenha a mais ténue agitação. Tudo está bem. Portugal foi eleito o melhor destino do sistema solar para o turismo de water tasting, de acordo com um artigo publicado na Fucking Hedonist, a sétima revista menos fútil numa lista de novecentas e doze. 

No ano seguinte o senhor subsecretário de estado é eleito presidente de uma câmara municipal a cujos munícipes prometera uma lata de salsichas por cada condomínio que instalasse painéis solares distribuídos pelo seu primo Teodoro. 

A junta de freguesia de São Mateus da Nhorpinhuça emprega a contribuinte baleada, ora paraplégica, como acendedora de interruptores a recibos verdes, gesto magnânimo que a leva a desistir da queixa que pensara, quando a austeridade matava, apresentar na esquadra mais próxima da GNR, a escassos 308km acessíveis mediante trajecto de catorze horas - por transporte público com o passe neo-social que o Governo da Luz deu a todos e a todas os transeuntes e as transeuntas.

O primeiro-ministro autoriza a instalação das iluminações para o hajj que se aproxima. 

O 25 de abril está vivo.


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