Ou conservamos a Família como um Valor, ou teremos necessariamente mais e maior Estado

Parcimónia, frugalidade, castidade, respeito pelo próximo, respeito por si próprio, desejo de justiça, o bem-público, etc., e outros são exemplos de valores. Como são distribuídos socialmente? Na família. Sendo assim, a Família é o valor cimeiro que permite que todos os outros se registem no indivíduo, se disseminem e sejam praticados socialmente.

Por que motivo são importantes os valores para um liberal? Pela mais pura razão da maximização da liberdade individual: em sociedades complexas onde é impossível ter regras explícitas para todos os comportamentos necessários num leque muito variado de opções face a situações concretas, os valores, que se hierarquizam na escolha dos indivíduos, servem de guia de acção. Ou seja, há uma relação inversa entre a existência de valores e a codificação positiva de leis e códigos de procedimento. Quanto menos valores, mais códigos positivos são necessários.

Nas empresas este fenómeno é bem conhecido: quando melhor são partilhados os valores cimeiros da organização, melhor podem os indivíduos decidir e agir autonomamente, dispensando intervenção hierárquica.

Assim sendo, para um liberal faz todo o sentido dar o exemplo (primeiro modo de transmissão e sedimentação de valores individuais e sociais) e gostar que as outras pessoas usem valores socialmente positivos, partilhados e bons globalmente para a sociedade.

Não é a escola que transmite valores positivos. A escola transmite instrução concreta teórica e técnica sobre como entender conceitos e desenvolver tarefas precisas. A transmissão de valores é feita dentro da família, através dos exemplos dos pais, das preleções morais que os pais fazem aos filhos quando estes fogem da norma familiar ou social. Chama-se educação.

O facto de a esquerda ter chamado ao Ministério, da “Educação”, já é um ataque aos valores sociais. Inverteu o ónus da transmissão de valores, e retirou a família do centro da engrenagem, colocando os funcionários pagos para doutrinar crianças em função da agenda das esquerdas. Alguns pais entendem isto e fazem um esforço de contenção de danos, seleccionando escolas melhores e mais tradicionais, tentando compensar os filhos quando estão juntos, mas a situação é muito complicada. Sobretudo quando a situação social imposta pela sociedade da abundância material, visual e mediática, impele no sentido da relativização total de tudo.

Ter valores sólidos é o contrário da relativização. É decidir objectivamente que há “coisas” mais importantes do que outras. Para o fazermos precisamos de ter referenciais culturais sólidos.

Com Marx, Gramsci e outros pensadores de esquerda, vulgarizou-se à esquerda, quais seriam os principais instrumentos de relativização do todo social. E, a intervenção cultural no campo dos valores foi erguida como prioridade. E têm avançado muito, mais ou menos pela calada, passo-a-passo, na destruição da rede de valores mais importante para nos mantermos numa sociedade o mais livre possível onde os indivíduos, por terem valores, sabem como melhor agir sozinhos e individualmente sem necessidade de codificação positiva para tudo. A esquerda marxista chamou-lhe “Hegemonia Cultural”.

“Gramsci hated marriage and the family, the very founding blocks of a civilized society. To him, marriage was a plot, a conspiracy… to perpetuate an evil system that oppressed women and children. It was a dangerous institution, characterized by violence and exploitation, the forerunner of fascism and tyranny. Patriarchy served as the main target of the cultural Marxists. They strove to feminize the family with legions of single and homosexual mothers and ‘fathers’ who would serve to weaken the structure of civilized society.” in, The Frankfurt School and Cultural Marxism: A Primer « A Letter To The Times

Se querem o exemplo cimeiro da nossa excessiva codificação positiva, esse é, o tipo de Constituição que temos. Em vez de ser um documento sintético sobre valores fundamentais, é um programa descritivo, extenso de acção em vez de princípios. Tudo pelo colectivo, nada pelo indivíduo. Regras para tudo. Codificação, normas, procedimentos, ou seja, o anti-liberalismo.

Por isso, custa ver liberais, ou ditos liberais, a participarem no avanço da hegemonia cultural da esquerda, quando também apelam ao relativismo ou participam na deterioração do núcleo social mais básico para manter os valores que permitem a liberdade individual: a família. Sem família iremos ter uma sociedade tal como Orwell descreveu em “1984”, ou tal como Aldous Huxley descreveu em “Admirável Mundo Novo”. Não será bom para os nossos filhos.

Um liberal moderno que pretenda menos estado e mais liberdade individual, informado sobre os contornos da luta que a esquerda promove e faz no seio da sociedade, tem de ser conservador. Ou então não é pela liberdade, mas um mero instrumento útil da hegemonia cultural da esquerda.

Nota: Originalmente publicado aqui. Título alterado.  

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