O Esquema



A esquerda contemporânea, infantil e mimada, quer todas as vantagens do progresso tecnológico, do avanço de novos mercados mas nenhuma das desvantagens. Sonha com startups, meetings, convenções e sinergias. O futuro, proclama, constrói-se hoje sob o slogan do empreendedorismo. No entanto, essa mesma esquerda deslumbrada com o novo e o futuro rejeita todas os males do progresso tecnológico. Recusa os desempregados das indústrias obsoletas, detesta a flexibilidade laboral e abomina tudo o coloque em causa o status quo corporativo e empresarial. Assim, em nome de recusar o mau do progresso taxa o bom do progresso: as novas empresas, os novos negócios, as novas indústrias. Ama o futuro e rejeita o futuro, canta o amanhã e sonha com que fique tudo na mesma. A contradição é insuperável, serão incapazes de a descortinar? Não. É precisamente em prometer o sol na eira e a chuva no nabal que reside o seu sucesso: vendedores de sonhos com uma mão, caçadores de taxas e impostos com a outra. Lançam impostos para garantir o futuro, lançam impostos para que esse futuro não mude nada. E impostos é o que eles querem: pagam-lhes as contas.

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