Uma brisa de verdade sopra sobre Churchill


A História é uma área do conhecimento que, tal como a cerveja ou o whisky, aprendi a gostar. Cerca de metade das minhas leituras incidem sobre a disciplina. Não é pois de admirar a minha quase obsessão na investigação, amadora bem entendido, dos múltiplos mitos que persistem teimosamente mesmo contra e apesar da evidência documental e material existente.
Para ser rigoroso, faço-o não em nome da verdade mas, e sobretudo, contra a mentira histórica. Tenho por meu dever cívico fazê-lo. É este o meu interesse no revisionismo, mas não no sentido da curiosidade/anedota histórica. Estou interessado sim no exame da matriz de entendimento da realidade política actual porque ela se escora em muito no "quadro de referência histórico".
Os revisionistas, especialmente quando atacam de frente os guardiões do templo, são malquistos pelo mainstream e alvo dos ataques habituais à sua ombridade e à falta de credenciais da "comunidade académica" (isto quando conseguem ultrapassar a fase de descoberta de um editor disposto a correr riscos), para além do risco físico que correm, pessoal e dos seus familiares (Robert Faurisson, Ernst Zuendel, David Irving, entre muitos outros). Por isso, vários autores tiveram que recorrer à edição por sua conta e risco muito embora, nesta época de comércio electrónico, ainda seja necessário ultrapassar a questão da distribuição (há centenas de livros que foram retirados dos catálogos digitais). Claro que não se livram do epíteto de maluquinhos das teorias conspirativas, mas enfim, 'it goes with the job'. Para baixar o nível de abstracção e ilustrar com um exemplo, do que estou a falar, eu não sei o que aconteceu no 11 de Setembro de 2001, mas sei que a narrativa oficial não tem ponta por onde se lhe pegue. Passados 55 anos ninguém acredita na versão oficial sobre o assassinato de J. F. Kennedy, etc., etc.
É pois de saudar a edição de The Phoney War, de Peter Hitchens, um inglês de cepa, hoje um conservador após ter percorrido todo o espectro político, que se lança num empreendimento que, se bem que relativamente modesto e quase isento de novidades, vem afirmar que quase toda a história da II Guerra Mundial conhecida pelos britânicos está errada. E isto a começar pelo totalmente imerecido embasbacamento face a Winston Churchill. Não é que Hitchens se tenha proposto desmontar peça por peça a hagiografia de Churchill até porque fazê-lo significaria quase inevitavelmente reduzir o papel do Reino Unido na guerra contra a Alemanha. Mas dá suficientes elementos, tanto quanto julgo saber pela primeira vez pela pena de um súbdito britânico, em temas embaraçantes relativos à condução da guerra. Por exemplo, não deixa de ser irónico que após o desastre da tomada falhada de Narvik, na Noruega, iniciativa conduzida por Churchill como ministro da Marinha, tenha resultado a resignação de Chamberlain (o suposto "apaziguador") e a ascensão de Churchill a primeiro-ministro. Churchill que já havia presidido ao desastre de Gallipolli na Grande Guerra, juntou uma série de desastres militares na II Guerra Mundial - Noruega, Grécia, Creta, a perda da Malásia e Singapura a invasão da Europa através da Itália, etc. A inspecção da suposta "relação privilegiada" entre o Reino Unido e os EUA revela-se fatal. A troca de terreno imperial (bases navais) pela cedência de destroyers obsoletos americanos, a punção do ouro britânico e, directamente, do domínio (África do Sul) evidencia bem a "solidariedade" do Lend-Lease de Roosevelt...
O livro termina debruçando-se sobre a (não) valia dos imorais bombardeamentos directos a civis bem como com o episódio da limpeza étnica, acordada em Potsdam de alemães e seus descendentes de todo o leste. "Finest hour?"
O receio dos ataques após publicação obriga o autor a, por várias vezes, referir que contar a verdade, tal como ele a vê, em nada diminui a dimensão dos crimes de Hitler e, muito menos, dos "seis milhões de judeus". Portanto, um livro revisionista, sim, mas apenas no sentido de abordar temas que o historiador mainstream pretende ignorar.
Quatro estrelas.

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