Inviável é aquilo que não tem remédio e não importa o que façamos

O movimento dos coletes amarelos; a não votação no parlamento britânico do acordo para o Brexit - que, recordam-se, era o "único acordo possível" (sic); a situação italiana com o défice em negociação difícil com a Comissão Europeia; a mesma Comissão Europeia a isentar a França do procedimento por défice excessivo que ameaça levantar à Itália; a Polónia e a Hungria a baterem o pé nas instituições europeias para deixar os direitos LGBTIQ fora do direito comunitário; a inenarrável assinatura colectiva do Pacto da ONU para as Migrações. E, por último, o sentimento difuso, alimentado pela imprensa de esquerda, de que a "extrema-direita" está a ganhar poder no mundo e na Europa em especial, sendo a última demonstração disso a expressiva votação no VOX em Espanha. 

Esta semana foi rica em acontecimentos, que demonstram o título do post, para a integração e desenvolvimento da União Europeia:

Em Itália, a "extrema-direita" - assim chamada por notável incapacidade da esquerda e centristas, em compreenderem os frutos dos próprios erros - já está no poder. Na Hungria, Polónia, Áustria,  Eslováquia também. Em França ou aparece mais um novo Messias em  substituição de Macron (tal como este substituiu Hollande no grande sonho in continuum de esperança do centro-esquerda) ou Le Pen e Mélenchon ganham as próximas eleições executivas. 

As eleições para o Parlamento Europeu serão em 2019 e adivinha-se que o futuro parlamento virá a ser constituído por uma grande percentagem de euro-cépticos que, tal como os britânicos fizeram (Farage e outros), trabalharão para a desintegração do projecto europeu.

A situação é complicada? Certamente. Prevê-se que se resolva, desanuvie, melhore para o centro-esquerda europeísta? A resposta simples e directa é: Não! E a economia será o factor que dará ainda maior complexidade acrescida quando, previsivelmente em 2020, entrarmos em nova crise sistémica mundial. Então, e  uma vez mais, serão testados os limites do que a moeda única permite quando economias assimétricas e integradas precisarem de estímulos adicionais colocados acima de estímulos que não foram interrompidos desde a crise de 2008. Quando pode terminar o quantitative easing do BCE? Poderá? Ou teremos uma situação inacreditável e jamais desejada pelos fundadores da CEE, e mesmo da moeda única, de o BCE ser o principal credor dos Estados - chegando assim à monetização efectiva dos défices - algo que era o objectivo 1º que não acontecesse em moeda única. 

Todos os problemas poderiam ser melhor enfrentados caso houvesse apoio popular às medidas difíceis que terão de ser tomadas. Mas, haverá esse apoio numa Europa cada vez mais fragmentada e entregue à liberdade radical de expressão que as redes sociais permitem? Notem que o paradigma mudou radicalmente nos últimos 20 anos quando tínhamos a imprensa centralizada a orientar o que o cidadão deveria conhecer, pensar, considerar, votar e apoiar (sempre os governos centristas - regra geral). 

Sem apoio popular as medidas difíceis terão de ser impostas, e já estamos a assistir à preparação da imposição por parte dos governos e elites: a censura está a ser preparada de vários modos para perturbar ao máximo a comunicação nas redes. Exemplos? Os artigos 11 e 13, o Pacto das Migrações que prevê o controlo da informação por parte dos governos e a criminalização de quem mesmo apenas fale contra a imigração. 

Claro que há grande diferença entre as intenções dos governos e aquilo que são efectivamente capazes de impor. A Internet é um sistema distribuído de tal forma que para se censurar ou bloquear garantidamente informação teria de se acabar com a própria internet (algo impossível ou a economia mundial colapsaria - todas as empresas globalizadas ou localizadas estão apoiadas na internet). No limite, imaginando que os governos poderiam controlar tudo o que diríamos ou com quem falaríamos, recorreríamos a sistemas P2P (peer to peer) como o WhatsApp e comunicaríamos em grupos fechados com mensagens encriptadas que mais ninguém fora do grupo consegue efectivamente ler ou controlar. Portanto, o que os governos conseguirão, será criar ainda mais insatisfação e descontentamento, aumentando a base de apoio dos movimentos de contestação. 

Remeto agora ao título do post: "Inviável é aquilo que não tem remédio e não importa o que façamos". Pois é. Não importa a força que os governos europeístas façam no sentido contrário, que a inviabilidade do projecto será cada vez mais demonstrada e este acabará por colapsar sob o próprio peso e erros dos que o tentam manter vivo, quando já é um zombie. Ou colapsa, ou o sistema terá de ser cada vez mais musculado para controlar dissidências e contestação, o que já se vai verificando; Vide, aliás, a proposta do economista francês Piketty, largamente aplaudida e difundida por todos os media, também esta semana, e que vem no sentido de mais musculação do sistema: aumentar os impostos e o centralismo na União Europeia.   

Poderiam ter feito de modo diferente? Poderiam sim. Teriam sido menos ambiciosos, não criando o monstro chamado "moeda única" e talvez hoje vivêssemos numa comunidade europeia satisfeita e feliz de pessoas, bens e serviços - com serviços cambiais, certamente - mas isso seria o menos na era da computação de big data. 

A criação da moeda única foi o erro capital para o projecto europeu. Mas isso fica para outro post. 

Bem vindos ao Contra Corrente.  


Comentários

  1. Enquanto a UE tiver bêbados e toxicodependentes a controlar o destino de 500 milhões de cidadãos, não se vai a lado nenhum.

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