O passado do futuro


Quero deixar aqui algumas sugestões sobre como gastar (rectius, subsidiar projectos com potencial) as subvenções europeias nos próximos anos. A primeira é óbvia: a banca. Sabendo-se que sem banca não há retoma económica e que a banca é exímia a chantagear governos nacionais e instâncias europeias com (im)paridades (im)prováveis, serão os banqueiros os guardiães dos fundos. Ou seja, financiar-se-ão os bancos em primeira instância, que despejarão dinheiro na economia com comissões sobre fundos sobre os quais não pagam um cêntimo. A segunda: a economia cloud. Há uns meses reuni com um tipos que tinham um projecto (a partir daqui reproduzo o que creio ter ouvido) de inovação na área tecnológica que consistia em criar uma plataforma B2B que operaria através de um cluster de hardware num datacenter.

Não percebi nada e muito menos entendi as vantagens; pedi-lhes explicações, tornei a não perceber e desconfio que eles também não. No entanto, o meu cliente achou o projecto muito interessante e mergulhou, feliz, numa parceria para a inovação. Assim se gastará o dinheiro europeu, obedecendo ao seguinte raciocínio: a pandemia também demonstrou que o país tem de apostar na inovação tecnológica. Porquê? Isso não interessa nada. Consigo imaginar o número colossal de projectos pífios e inúteis que se financiarão, alavancados na visão petit-bourgeoise típica do secretariado de estado que se excita com a palavra modernização. E, por falar em inutilidade, a terceira, que nos é familiar: a qualificação da população activa motor da competitividade que permitirá ao país competir com os seus parceiros europeus (a falta de pontuação não é incidental, é dramática). Não creio ser preciso detalhar o chorume de dinheiro que irá direitinho para a formação profissional; deparar-nos-emos com um centro de formação tecnológica debaixo de cada pedrinha e visionárias Tecnoformas renascerão das cinzas. Em 2030, proficientes CPI investigarão o destino dos subsídios e o MP iniciará vários processos de inquérito destinados a apurar se etc., etc.. Para quem gosta de dizer que dantes é que era bom.








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